segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

História da Osseointegração

    Nascido na Suécia em 1929, médico ortopedista e professor universitário nas faculdades de medicina e odontologia de Gotemburgo, já indicado 5 vezes ao prêmio Nobel de medicina, Dr. Per-Ingvar Brånemark é considerado o pai da osseointegração. Fenômeno este, descoberto na década de 50 e que alterou substancialmente a profissão odontológica devido a grande ampliação da gama de possibilidades de tratamento aos pacientes com perdas dentais ou ressecções oro-faciais. Conheça abaixo a breve história da osseointegração descrita em 2005 pelo próprio Prof. Brånemark (do qual tive a honra de ser aluno em meu curso de residência em Implantodontia pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP - "Centrinho") em seu site oficial no www.branemark.com.

 Professor Per-Ingvar Brånemark  
 
   Prof. Brånemark e Thales em evento - Bauru 2003
 
História da Osseointegração 

 Durante os estudos de microscopia vital em animais e humanos sobre o sangue como tecido móvel, foi implantado no osso (e medula) uma câmara óptica de titânio para visualização dos elementos sanguíneos. Ao final dos estudos, tornou-se extremamente difícil de se remover as câmaras para novos usos sugerindo adesão biológica de tal metal ao osso. Após vários anos, quando me mudei de Lund para Gotemburgo, em um trabalho (1959) de cirurgia plástica e ortopedia, surgiu a possibilidade de se usar aquela descoberta em algumas situações clínicas como por exemplo, fissuras secundárias, próteses de articulação e membros. Mais tarde ainda defeitos tumorais foram incluídos em nossas contribuições internacionais. 
 Devido ao fato de eu ser supervisor para estudantes de PhD de odontologia e medicina, pude assimilar um amplo espectro de teses de doutoramento sobre reações tissulares e cicatrização, mesmo em tecidos irradiados. Esta situação também me permitiu acompanhar um grande número de pacientes com defeitos em várias partes de seus corpos.
Obtive no fim dos anos de 1950, uma bolsa do NIH para estudo da formação e liberação de eritrócitos nos seios ósseos medulares, que era meu principal interesse. Isto me tornou relativamente independente e também permitiu a aquisição de equipamentos especiais à época.
No departamento de cirurgia plástica em Gotemburgo, havia um caso de fissura (fenda palatina) secundária em um adulto que perdera também seus dentes inferiores. Desde os ensaios, reparamos defeitos de mandíbula e tíbia em cães grandes usando parafusos de titânio e placas com carga imediata, e sugerimos a este paciente a instalação de fixações de titânio em sua mandíbula para se ancorar uma prótese, de modo que ele poderia estabilizar seu obturador (da fissura) superior que era usado devido a sua fenda residual na maxila.
O procedimento foi feito sem intercorrências e desde 1965 o paciente (morreu pouco depois de este artigo ter sido publicado) possui uma prótese fixa em sua mandíbula (apenas a prótese foi trocada algumas vezes). A maxila foi enxertada em 1980 mas ainda assim não houve possibilidade de se instalar uma prótese fixa. Entretanto, com o advento dos implantes zigomáticos mais tarde, o paciente enfim, pode ter próteses fixas nos dois arcos, além da obturação fixa de sua fenda palatina.
A razão de porque o titânio foi escolhido foi devido à estreita colaboração com a Universidade Técnica de Chalmers, em Gotemburgo, onde consideramos primeiramente várias alternativas de materiais. Por coincidência, um cirurgião ortopédico, Hans Emneus, em Lund, estava estudando diferentes metais usados para prótese articular de quadril. Àquela época, nós nos encontramos e ele me indicou um novo metal que poderia ser adequado, o titânio, que vinha da Rússia e era usado na indústria nuclear. Consegui uma amostra russa via Avesta Jernverk, Director Gauffin, de onde vinha titânio puro. Inicialmente tentamos o tântalo, mas era muito macio. 
Os resultados experimentais foram apresentados em congressos médicos e odontológicos locais e publicados em revistas da área da saúde.
A reação indicou séria descrença, sugerindo que o titânio inserido em osso não deveria ser usado em humanos e nem mesmo em cachorros. Skalak e Zarb sugeriram uma conferência internacional no ano de 1982 em Toronto para explicar o fenônemo da osseointegração, sua biologia e aplicações. O primeiro dia (de 2) da conferência foi bem negativo, mas no segundo dia as possibilidades e prognósticos foram bem aceitas, e o fato foi decisivo para o progresso da área.
Eu conheco e respeito completamente que a Osseointegração em odontologia e medicina é o resultado de décadas de colaboração internacional, sem egos, com boa comunicação, divisão de resultados, problemas e ideias entre todos. A influência comercial foi um passo necessário, mas é imperativo, que o uso de novos procedimentos, materiais e suas interfaces sejam meticulosamente examinados em longo prazo, com estudos multi-cêntricos antes que sejam liberados para uso geral. Há um problema particular, relacionado à tendência em se concentrar somente no maquinário e de se esquecer o efeito decisivo de carga funcional no processo cicatricial e remodelamento do osso cortical e medular. A energia da interface é controlada pelos elementos do corpo do paciente, particularmente se sofrem de algumas situações auto-imunes, receberam radioterapia ou alguma outra influência. É impressionante que tenhamos um controle maior de procedimentos relacionados a aceitação de novas drogas comparado a o que e como introduzimos um pedaço de metal para ancoragem óssea que poderá durar a vida toda, penetrando permanentemente a pele ou mucosa. A boca é mais importante no corpo humano do que as agências de controle e algumas áreas médicas infelizmente reconhecem.​
O paciente desdentado é um amputado, um inválido oral, para quem deveríamos prestar total respeito e ambições de reabilitações.
 Menos é mais. Esta é nossa ambição quando pensamos em dimensões e números de elementos de ancoragem. Mas isto pressupõe que a dimensão e direção da carga funcional, não ultrapasse os limites dos tecidos que a suportam e ainda certamente envolve cuidados na manutenção de tal aparato. Finalmente, antes, uma idade avançada era associada com um quase inevitável edentulismo, com consequências à personalidade, nutrição, comunicação, etc. É gratificante notar que mesmo o grupo de pacientes mais idosos pode receber uma reabilitação oral, mesmo em paciente com mais de 90 anos, com os mesmos resultados e prognósticos que um paciente de meia idade. O fator decisivo é como permitir o tecido cicatrizar e se integrar, possivelmente requerendo atenção especial. E finalmente, via osseopercepção, a boca dentada reabilitada se comunica com o cérebro, possivelmente melhorando não somente a função diária, mas também sendo um importante fator na restituição depois de eventos vasculares intra-cranianos. - Isto é outra importante razão para incluir a boca nas considerações a respeito do que instalamos em qualquer parte do corpo.
P-I Brånemark, Setembro de  2005
 
Para maiores detalhes peça referências ao seu profissional!

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