Este artigo de revisão explora a complexa interação entre a terapia ortodôntica (TO) e os tecidos periodontais. Ele é estruturado em três seções principais, abordando a relação da TO com a saúde periodontal, a periodontite e as condições mucogengivais. Em cada seção, são discutidas complicações comuns, erros de tratamento e recomendações para evitá-los ou corrigi-los, com base em evidências atuais e na opinião de especialistas.
Terapia Ortodôntica e Saúde Periodontal
A TO é mais frequentemente realizada em crianças e adolescentes com periodonto saudável. Aparelhos ortodônticos fixos podem dificultar a higiene bucal, levando ao acúmulo de placa e inflamação gengival. Em alguns casos, isso pode resultar em hiperplasia gengival inflamatória, que geralmente é leve e desaparece após a remoção do aparelho. A reabsorção radicular externa apical é uma complicação iatrogênica comum da TO, com incidência variando de acordo com a gravidade. Fatores de risco incluem longa duração do tratamento e aplicação de forças intensas. É crucial informar os pacientes sobre esse risco e monitorar a situação com radiografias para detectar a reabsorção precocemente. Se detectada, o tratamento ativo deve ser suspenso temporariamente. Em suma, a TO pode ser realizada com segurança em pacientes periodontalmente saudáveis, desde que a saúde periodontal e a higiene bucal adequada sejam mantidas e monitoradas.
Terapia Ortodôntica e Periodontite
Há um número crescente de adultos com periodontite buscando tratamento ortodôntico. É consenso que a inflamação periodontal deve ser controlada antes e durante a TO. A movimentação ortodôntica em tecidos periodontais inflamados pode agravar a perda de inserção do tecido conjuntivo.
O artigo descreve vários cenários clínicos:
* Paciente com periodontite tratada com sucesso: A TO pode ser realizada sem afetar significativamente os resultados periodontais, desde que os objetivos da terapia periodontal tenham sido alcançados.
* Paciente com periodontite não diagnosticada/não tratada: Iniciar a TO neste cenário é considerado um erro de tratamento que pode ser evitado com triagem e exame periodontal adequados antes do tratamento.
* Paciente com periodontite não tratada necessitando de tratamento periodontal e ortodôntico: A TO pode ser benéfica após o controle da infecção periodontal e pode melhorar ligeiramente os parâmetros periodontais. O momento ideal para iniciar a TO após a terapia periodontal varia (3-6 meses após a terapia não cirúrgica, 6-9 meses após a cirúrgica e 12 meses após procedimentos regenerativos).
* Paciente com periodontite incipiente não detectada: A falha em diagnosticar e monitorar a periodontite incipiente durante a TO é um erro que pode levar à deterioração da condição periodontal.
* Paciente periodontalmente saudável, mas suscetível à periodontite: O monitoramento regular é fundamental para prevenir a destruição periodontal rápida em pacientes suscetíveis que podem desenvolver periodontite durante a TO.
Terapia Ortodôntica e Condições Mucogengivais
A TO pode afetar as condições mucogengivais, especialmente a recessão gengival, que é o deslocamento da margem gengival em direção à raiz do dente. Fatores como um fenótipo gengival fino (gengiva fina) aumentam o risco de recessão durante a movimentação dentária. O movimento dos dentes para fora do envelope ósseo do processo alveolar, como na expansão do arco, está associado a uma maior tendência de recessão gengival e deve ser considerado uma complicação ou erro de tratamento.
Alterações na posição dos dentes após o tratamento ativo, durante a fase de retenção, também podem causar problemas. O uso de retentores fixos não passivos pode gerar forças indesejadas, levando a movimentos dentários e recessão gengival, uma condição conhecida como "síndrome do fio". O desenvolvimento de fendas gengivais durante o fechamento de espaços ortodônticos é uma complicação comum. Por outro lado, a TO pode ser benéfica no tratamento da perda da papila interdental ("triângulos negros") por meio de uma abordagem combinada periodontal-ortodôntica para aproximar os dentes e remodelar o esmalte.
Em conclusão, a revisão destaca a importância da colaboração interdisciplinar entre periodontistas e ortodontistas para otimizar os resultados do tratamento e evitar complicações, garantindo o bem-estar dos pacientes.